Sob a Neve, os Mortos Andam - Capítulo 2
CAPÍTULO 2 – A PRIMEIRA LÂMINA
O trovão cortou o céu como uma lâmina divina.
Lucan se encolheu por reflexo, os olhos piscando contra a claridade súbita que iluminou a floresta por um segundo.
E então veio o som — bruto, profundo, seco, como se o próprio céu estivesse se partindo ao meio.
A mão escorregou da casca molhada.
A bota perdeu apoio no galho.
O mundo virou.
Ele caiu.
O ar cortava o corpo como faca enquanto ele despencava do topo do pinheiro. Galhos rasgaram o casaco, a neve cobriu a visão — mas mesmo no meio do descontrole, seus olhos estavam fixos em um único ponto:
O túmulo de seus pais.
E antes de atingir o chão, num impulso que não veio da mente, mas do peito, ele estendeu a mão trêmula na direção do cemitério e gritou:
— INVOCAR!
A palavra reverberou como se tivesse sido puxada do fundo da terra.
Ele atingiu o chão com um baque abafado. Rolou na neve, tossiu, ficou deitado por alguns segundos, atordoado. O corpo latejava. Mas estava inteiro.
Levantou-se com esforço. Olhou para cima.
E viu.
No topo do morro, acima do cemitério, uma figura solitária, parada como se já estivesse ali antes de tudo acontecer.
Usava um chapéu de palha velho, meio torto, aba caída cobrindo parte do rosto.
Estava imóvel, como uma pintura recortada do tempo.
Lucan engoliu em seco.
A figura se moveu.
Sem dizer nada, sem gesto, se jogou do alto.
Caiu em linha reta, braços abertos, o corpo solto como se ignorasse as regras da gravidade.
E então pousou com firmeza, os pés cravando no solo de neve como uma aterrissagem treinada.
Lucan recuou um passo, instintivamente, enquanto o sistema aparecia diante de seus olhos:
[Invocação concluída: Espadachim Assassinado]
A figura levantou a cabeça.
Agora ele via.
Era um homem jovem — talvez pouco mais velho que ele. Cabelos castanho-escuros, bagunçados e presos num nó baixo, deixando escapar algumas mechas pela nuca e pela lateral do rosto. A pele era clara, mas marcada por cortes antigos.
O corpo era magro, mas definido, como o de alguém que vivia em movimento.
A camisa estava aberta no pescoço, revelando uma cicatriz larga no ombro.
A heterocromia era impossível de ignorar: um olho castanho escuro, o outro de um tom pálido, quase branco, onde brilhava, dentro da íris, o símbolo de uma caveira branca.
E mesmo sem dizer uma palavra… ele respirava presença.
A espada na cintura era simples, mas afiada. O corpo inclinado levemente para frente, como se já antecipasse um ataque que ainda não tinha vindo.
Lucan ficou parado.
O espadachim apenas olhou para ele.
E então, ajoelhou.
Ajoelhou como quem reconhece.
Como quem entende.
Como quem já pertence.
Lucan sentiu algo percorrer o ar, como um fio de energia fria puxando da nuca até a base da coluna.
Era estranho.
Não mágico.
Vivo.
Ele respirou fundo, o coração batendo lento agora.
══════════════ 𝕾 ⚔ 𝕾 ════════════════════════════ 𝕾
O caminho de volta era silencioso.
A neve caía com mais calma agora, mas o frio ainda cortava.
Kael caminhava à frente, o rosto meio coberto por um lenço escuro, os cabelos branco-prateados jogados para trás, com alguns fios caindo sobre a testa alta. Seus olhos azul-acinzentados estavam fixos no caminho como se traçassem uma linha invisível até a vila.
A cicatriz na bochecha esquerda destacava o contorno dos lábios cheios e quietos, mas era o olhar que denunciava: estava satisfeito. E exausto.
Ranna seguia atrás, um pouco mais distante, observando tudo.
O Lobo da Nevasca caminhava ao lado de Kael, silencioso, como se estivesse ali desde sempre. A criatura era imensa — maior do que qualquer lobo das neves que ela já viu. O pelo branco-acinzentado parecia ter sido moldado pelo próprio inverno, e no flanco esquerdo, a cicatriz da batalha ainda fresca, cruzando o corpo como uma marca de honra.
Mas o que mais chamava atenção eram os olhos — de um azul tão intenso que pareciam brilhar como sangue congelado.
“Ele realmente conseguiu,” pensou Ranna.
“Sozinho, não teria dado conta. Mas ele se adaptou rápido. Aprendeu comigo.”
Ela mesma tinha o corpo cansado — pele bronzeada coberta de tatuagens com símbolos antigos de gelo, camisa de compressão preta colada ao corpo musculoso, e calças brancas enrijecidas pelo frio.
Seu cabelo preto, longo e liso, caía sobre os ombros e a franja cobria parcialmente a testa, escondendo parte de uma cicatriz que atravessava o lado direito do rosto.
Eles passaram pelos pinheiros mais baixos e a fumaça das casas já aparecia entre os galhos.
A vila estava quieta, mas acordada.
E à frente da forja de pedra e madeira, parado com os braços cruzados, estava ele:
Eldar.
Pele escura, cabelos brancos presos em uma trança parcial, barba longa e grisalha balançando levemente com o vento. Usava uma faixa escura na testa e um casaco pesado de couro forrado, aberto no peito, revelando cicatrizes antigas como marcas de um mapa.
No pescoço, um pingente de pedra negra pendia de um colar simples, tocando o centro do peito com o peso de algo sagrado.
Ranna parou ao lado.
Kael se aproximou e, sem hesitar, ajoelhou-se diante do pai.
— Eu consegui — disse, firme.
Eldar o observou em silêncio por alguns segundos.
O lobo deu dois passos à frente, parando ao lado do garoto. Mesmo ferido, seu corpo erguido transmitia uma nobreza crua — como se soubesse que estava sendo avaliado.
Eldar apenas olhou nos olhos da criatura.
Azul-sangue.
Foco. Lealdade. Dor.
— Ele vai ficar ao seu lado — disse Eldar, por fim. — Enquanto você for digno.
Kael se levantou devagar, com o orgulho contido.
— Quero que o senhor dê o nome dele.
Eldar estreitou os olhos, o vento batendo contra o rosto como se até a floresta esperasse a resposta.
Passou os dedos lentamente sobre o pingente. E falou, baixo, como quem nomeia algo que já existia antes de ser visto:
— Thorne.
Kael assentiu.
O lobo… também.
A vila estava começando a acordar de verdade.
Fumaça subia das chaminés, as portas se abriam uma a uma. A neve rangia sob as botas pesadas, e o cheiro de madeira queimada misturava-se ao ar gelado como um lembrete de que a vida continuava, mesmo no meio do frio.
Kael caminhava com passos calmos até a forja. Thorne, o Lobo da Nevasca, o seguia sem pressa, os olhos azuis vibrando como brasas frias. Os moradores olhavam, alguns se afastavam, outros apenas observavam em silêncio.
Brigga estava de costas, mexendo numa das fornalhas pequenas quando ouviu o barulho da criatura.
Virou devagar, o rosto meio coberto de fuligem, as mãos ainda segurando uma barra incandescente com a pinça.
— Ora, ora… — disse com um meio sorriso. — O herdeiro voltou mais cedo do que eu esperava.
Kael parou em frente à forja.
— Vim mostrar o que domamos.
Brigga passou os olhos por Thorne, avaliando como quem avalia uma arma.
— Ele parece ter nascido no frio. Inteligente?
Kael assentiu.
— E leal. Vai seguir meu ritmo.
Brigga balançou a cabeça, satisfeita.
— Bom. O mundo já tem lobo demais que morde sem pensar. — Depois ergueu uma sobrancelha. — E o Lucan? Já voltou?
Kael negou com a cabeça.
— Ainda não. Foi sozinho.
Brigga soltou um “tss” com a língua, como quem respeita, mas se preocupa.
— Aquele menino… sempre calado, mas a cabeça tá sempre a mil. Aposto que tá planejando dominar o próprio túmulo antes de voltar.
Kael deu uma risada curta, quase um sopro de nariz.
Brigga largou a barra metálica no suporte e foi até um canto da forja. Retirou um pano grosso que cobria algo apoiado na parede.
— Já que tá aqui, seu pai pediu pra eu te entregar isso.
Kael arqueou uma sobrancelha.
Era um arco.
De madeira escura com veios dourados, curvatura perfeita, leve brilho nas extremidades onde duas pequenas runas estavam gravadas. Ao lado, um conjunto de flechas com pontas afiadas e hastes revestidas em couro de neve.
— Seu pai me trouxe a madeira ontem — disse Brigga, com um orgulho discreto na voz. — Madeira embutida com a mana dele, e eu mesma gravei uma runa de velocidade.
Ela passou a mão sobre o arco como quem apresenta algo pessoal.
— Agora você consegue atirar de longe e rápido. Muito rápido.
Seu pai disse que você ia voltar glorioso, e já deixou o material separado. — Ela sorriu. — Me parece que ele te conhece bem demais.
Kael segurou o arco com reverência.
— Obrigado, Brigga.
— Parabéns, garoto.
— E mantenha esse lobo por perto. Nunca se sabe quando vai precisar de alguém que morde por você.
══════════════ 𝕾 ⚔ 𝕾 ════════════════════════════ 𝕾
A floresta agora parecia mais quieta.
Não calma — apenas observando.
Lucan caminhava entre os pinheiros, os passos pesados pela carga nos ombros.
Carregava um bloco de ferro bruto, do tipo que ainda parecia pedra, pesado, escuro, frio como a terra congelada.
Ao lado, seu invocado o acompanhava em silêncio, carregando nas costas pedaços de madeira e um núcleo metálico menor.
O espadachim não dizia nada.
Não precisava.
Suas ações eram claras: ajudava, acompanhava, não reclamava.
Lucan olhou uma vez de lado.
Ele nunca pediu ordens.
Mas também nunca hesitou em agir.
A cada passo de volta à vila, o vínculo entre os dois se tornava menos estranho — e mais natural.
Não como mestre e servo.
Mas como duas armas voltando da mesma guerra.
══════════════ 𝕾 ⚔ 𝕾 ════════════════════════════ 𝕾
A entrada da vila se abriu diante deles como se o vento mesmo tivesse puxado os portões.
Lucan passou pelos primeiros pinheiros já dentro da zona segura, a neve bem mais pisada e os rastros humanos misturados aos dos animais domésticos.
Atrás dele, o espadachim invocado seguia sem um som sequer, carregando madeiras secas e pedaços metálicos nos ombros, como se aquela tarefa já fosse parte de sua existência.
À frente, vindo da direção da forja, Kael surgiu com Thorne ao lado.
O lobo caminhava imponente, sem trela, sem olhar pros lados — como se cada passo tivesse sido desenhado com orgulho e domínio.
Lucan parou.
Kael também.
Os dois se encaram por um segundo.
Nenhum gesto exagerado. Nenhuma palavra jogada.
Apenas um aceno de que ambos estavam vivos. E tinham voltado com algo.
Lucan olhou para o lobo.
— Uma caçada e tanto, hein?
— Já testou os poderes dele? Ou olhou a tela de status?
Kael deu um sorriso curto, meio de lado.
— Ainda não. Não faz muito tempo que eu cheguei.
Virou-se para o lobo, abriu a palma da mão e disse:
— Status!
A tela apareceu diante dos dois. O sistema reconheceu a criatura com frieza:
✦ [STATUS – LOBO DA NEVASCA] ✦
Rank: Pedra
Habilidade Única: Uivo de Gelo
Vitalidade: 20
Força: 21
Destreza: 21
Magia: 10
Lucan leu tudo com um olhar atento, sem dizer nada por alguns segundos.
Depois falou, como quem pensa em voz alta:
— Interessante.
Fechou a tela e olhou Kael nos olhos.
— Ei. Amanhã, quer ir caçar?
Kael balançou a cabeça com leveza.
— Não posso. Vou sair com meu pai pra cidade buscar suprimentos pra vila.
Já se afastando, virou-se por cima do ombro e lançou:
— Mas eu vou treinar com meu lobo. Então não ache que eu vou ficar mais fraco que você.
Lucan não respondeu.
Apenas deu um meio sorriso, discreto e desafiador.
Um sorriso que dizia, com o silêncio:
Duvido.
A casa de Brigga parecia mais quente do que nunca ao se aproximar.
Lucan empurrou a porta com o ombro, entrou, e largou o bloco bruto de ferro com um baque abafado no canto da sala.
O invocado entrou logo depois, depositando os materiais cuidadosamente no chão, como se entendesse o valor deles.
Lucan tirou o casaco, suspirou, e chamou:
— Vó?
Passos pesados vieram do fundo.
Brigga surgiu com um avental grosso sujo de fuligem, os braços cruzados e o cabelo preso em um nó torto.
— Já voltou? E inteiro?
Lucan assentiu, cansado mas firme.
— Trouxe o que você pediu.
— E… consegui.
Brigga olhou pra ele com os olhos semicerrados, depois desviou o olhar pro homem parado atrás de Lucan.
Ela não precisou perguntar.
— Então esse aí… é o primeiro?
Lucan apenas confirmou com um aceno.
Brigga se aproximou do invocado, estudando-o como estudaria uma lâmina nova.
Viu as cicatrizes. A espada. O olho com a caveira branca brilhando.
E então disse:
— Bonito. E quieto.
— Vai dar certo.
Lucan tirou as luvas, esfregou o rosto e perguntou:
— Tem chá?
Brigga soltou uma risada curta.
— Sempre tem chá. E pão seco. Quer os dois?
Lucan olhou em volta, respirando fundo pela primeira vez desde que saiu de casa.
— É o suficiente.
— Por hoje.
══════════════ 𝕾 ⚔ 𝕾 ════════════════════════════ 𝕾
A tarde já estava escorrendo pelas bordas da vila.
A luz alaranjada do céu refletia nos telhados cobertos de neve, tingindo a paisagem de dourado frio.
Lucan estava sentado sobre uma pilha baixa de madeira, ao lado da fornalha, onde o calor era constante e suave.
Segurava uma caneca grossa de ferro com café com leite quente, o vapor subindo em espirais lentas que desapareciam no ar gelado.
O calor da bebida batia contra o rosto, enquanto ele encarava o chão coberto por uma camada fina de neve recém-caída.
Estava pensando.
“Amanhã, preciso testar mais do que só minha sorte.”
Levou a caneca à boca, tragou com cuidado.
“Madeira, Pedra, Ferro…”
O pensamento veio com naturalidade — parte do conhecimento que crescera escutando em voz baixa nas conversas dos adultos.
“As bestas de rank Madeira são inúteis pra treino real. Fracas, usadas pra transporte, comida ou couro. Nem reagem direito ao perigo.”
“As de rank Pedra… essas já sabem o que é instinto. Revidam. Têm pele dura, chifres, garras.”
“E as de Ferro, bom… são um problema real. A maioria morre tentando matar uma.”
Tomou mais um gole.
“Mas pedra já é o suficiente… por agora.”
Virou os olhos pro lado.
O espadachim estava ali. Sentado próximo, um pouco afastado, como se o silêncio entre os dois fosse um idioma.
O chapéu de palha cobria os olhos dele, a sombra projetada no rosto passava uma presença firme, quase ameaçadora.
A espada repousava ao lado, com a ponta fincada no chão e o cabo apoiado no ombro do homem, como se ele estivesse pronto pra puxá-la a qualquer segundo.
Mesmo parado, ele parecia prestes a agir. Como uma flecha que escolheu não voar — ainda.
Lucan suspirou baixo.
“Ele não fala… mas entende. De algum jeito, ele sempre entende.”
A porta rangeu atrás deles.
Brigga saiu da casa, limpando as mãos com um pano sujo de fuligem.
Ela olhou Lucan por um momento e depois, com uma expressão quase casual, soltou:
— Você não vai precisar de duas espadas?
Lucan franziu o cenho, sem entender.
— Duas?
Brigga apontou com o queixo na direção do espadachim.
— Uma pra você. E outra pro seu… novo companheiro.
Lucan ficou em silêncio por um segundo.
Depois sorriu.
Um sorriso curto, mas sincero.
Levantou-se, caminhou até ela, e pousou a mão no ombro da ferreira.
— Obrigado… vó.
Ela segurou o pano no ar por um segundo, paralisada.
Quando Lucan virou e entrou na casa, a caneca ainda soltando vapor na mão, ela olhou pra porta com um brilho discreto nos olhos.
— Moleque carente… — murmurou, com um sorriso torto.
Riu sozinha.
E entrou atrás dele, os dois prontos pra forjar mais do que aço naquela noite.
Lá fora, com o céu escurecendo, o espadachim se levantou em silêncio.
Sem um som, escalou a parede lateral da casa com a mesma naturalidade de quem caminhava.
Subiu no telhado.
Ficou ali.
Observando.
Guardando.
Como uma sombra leal — de olhos abertos, mesmo sob o chapéu.
A noite caiu inteira, pesada, como um manto de ferro sobre a vila.
Dentro da forja, o som das marteladas se misturava ao chiado do metal esfriando.
Lucan e Brigga trabalhavam lado a lado — ela moldava e gravava, ele polia e preparava as peças.
Lá fora, o espadachim invocado continuava no telhado. Parado.
Imóvel como uma estátua.
Seus olhos invisíveis sob o chapéu varriam a escuridão em silêncio, vigiando cada movimento da noite.
Horas depois, a escuridão foi substituída por uma luz acinzentada e fria da manhã.
Lucan despertou com dificuldade.
Se espreguiçou pesado na cama, os músculos reclamando do esforço da noite anterior.
Bocejou, coçou o cabelo bagunçado, e vestiu a camisa com um resmungo.
“Devia ter dormido mais cedo…”
Caminhou devagar até a sala da forja.
Lá, Brigga finalizava os últimos detalhes nas espadas.
Suas mãos experientes gravavam com cuidado as Runas de Inquebrável — que deixariam as lâminas mais resistentes que o normal — e a de Sangramento, que ampliava o dano de cortes profundos e exigia cura mágica para ser contido.
Lucan parou diante da mesa.
As espadas estavam ali.
Ele estendeu a mão e as ergueu com cuidado, observando cada detalhe.
A sua espada parecia unir duas ideias em uma arma só:
Era ao mesmo tempo elegante e brutal.
Tinha uma lâmina longa e reta, com o fio afiado e ranhuras esculpidas com precisão, talvez para canalizar magia ou sangue.
A guarda em forma de cruz era detalhada, firme, e o punho trabalhado com couro trançado dava uma pegada firme.
Perto da guarda, uma pedra negra estava incrustada, como um olho dormindo.
A aparência da lâmina sugeria uso antigo, quase ancestral, mas a forja era recente.
Sutilmente curva na ponta, a espada misturava arte e propósito com um peso imponente.
Já a espada do invocado tinha outra alma.
Era uma katana de lâmina curva, com um brilho escuro, quase líquido.
O metal polido refletia o fogo da fornalha com um tom sombrio.
O tsuka — o punho — era decorado com padrões em espiral, esculpidos com precisão.
Na guarda, ou tsuba, ondas estilizadas formavam um redemoinho metálico, como se a lâmina carregasse a fúria da água.
Perto da base, um pequeno ornamento parecia observar o mundo junto com o portador.
Brigga cruzou os braços, sorrindo com orgulho.
— Você caprichou na espada do seu companheiro, não foi?
Lucan deu uma risada curta.
— Sim… — ele balançou a cabeça com leveza — Afinal, ele vai estar na linha de frente. Eu só vou dar cobertura.
Brigga assentiu, também rindo.
— Entendi. Faz sentido.
Alguns minutos depois, Lucan saiu de casa.
Carregava as duas espadas nos braços.
Olhou pros lados, procurando.
O céu ainda estava pálido, tingido com os tons do nascer do sol.
Então, ouviu um leve som.
Do alto do telhado, o espadachim desceu de forma rápida e controlada, como se fosse parte do próprio vento.
Lucan ergueu a espada curva e disse com um sorriso de canto:
— Aí está você.
Estendeu a arma na direção do invocado.
O homem a pegou com cuidado.
Observou o metal, passou o dedo próximo da lâmina, analisou a empunhadura.
Em silêncio, prendeu-a na cintura, e então ajoelhou-se lentamente, num gesto de respeito silencioso.
Lucan observou aquilo com seriedade.
Não disse nada.
Mas entendeu.
Na entrada da floresta, Lucan parou por um instante.
Lá ao longe, viu Kael montado num cavalo branco, o novo arco nas costas e o lobo ao lado do cavalo, marchando firme.
À frente, o pai de Kael — Eldar — já estava sobre o próprio cavalo.
Era um animal mais velho, musculoso, com uma cicatriz profunda na perna traseira esquerda.
Eldar estava segurando uma espada massiva em uma mão, a lâmina reluzindo à luz do sol recém-nascido.
Com um movimento firme, ele girou a espada e a guardou nas costas, como um veterano acostumado com o peso de mil batalhas.
Kael seguiu logo atrás, trotando junto do pai.
Lucan observou por um tempo.
Depois virou-se para a floresta.
E caminhou.
FINALIZAÇÃO
Opa, tudo bom? deixe a sua review aqui nos comentarios, sabia que isso me motiva a escrever cada vez mais? hehe. Quer dar um help pro escritor iniciante aqui? só ajudar no Pix! davisantos857620@gmail.com Obrigado por ter lido.