Sob a Neve, os Mortos Andam - Capítulo 1
PRÓLOGO ZERO – A Semente do Sistema
Ninguém mais lembra o nome dele.
Talvez tenha sido apagado de propósito.
Ou talvez ele mesmo tenha decidido esquecê-lo, no dia em que abriu mão de tudo.
Chamam-no de O Portador.
Há muito tempo — tempo o bastante para que o mundo o transformasse em mito —, as terras viviam à sombra de criaturas que não podem ser descritas com palavras.
Bestas de Rank Éter.
Seres que caminhavam como tempestades conscientes, cada passo abrindo fendas no solo, cada grito silenciando cidades inteiras. A humanidade estava à beira do fim — pequena, fraca, sem escolha.
E foi então que ele surgiu.
Não era o mais forte. Nem o mais sábio.
Mas havia perdido mais do que qualquer um.
Família. Companheiros. Cidades. Tudo levado pelas presas e patas daqueles que não deveriam existir.
Um dia, dizem, ele encontrou algo.
Outros sussurram que foi escolhido.
Poucos acreditam que ele criou.
Mas todos concordam: ele não usou o poder para si.
Ele se dividiu. Se apagou.
E no espaço que sua alma deixou, nasceu o Sistema.
Uma estrutura invisível, impessoal e silenciosa, que espera.
Espera que alguém atinja a idade.
Espera que alguém diga:
“Liberar Sistema.”
E então, surge a escolha.
Três classes. Uma única chance.
A partir dali, o mundo muda — e a pessoa também.
Hoje, quase ninguém acredita no Portador.
Mas toda vez que uma tela aparece, em silêncio, flutuando diante de alguém prestes a despertar, é dele que estão recebendo o presente.
Ou a maldição.
CAPÍTULO 1 – O DESPERTAR
A neve caía em silêncio sobre o telhado da vila.
Os pinheiros balançavam com um vento frio e constante, como se sussurrassem segredos uns aos outros, lá no alto. Tudo ali parecia velho, mas sólido.
Forte como a madeira escura que formava as casas.
Velho como o medo que rondava o coração de quem crescia naquela floresta.
Lucan olhava pela janela estreita da casa de Brigga, a ferreira.
A fumaça da fornalha aquecia o interior com um cheiro bom de ferro quente e chá de casca de raiz.
Ele estava de pé, calado, com os braços cruzados, encarando o vazio branco do lado de fora.
Atrás dele, Brigga remexia a lenha com um gancho.
— Não tá nervoso? — ela perguntou sem virar o rosto.
Lucan não respondeu de imediato.
Inspirou fundo. Expirou pelo nariz.
— É só uma tela. Uma escolha. — disse ele.
Brigga soltou um som que ficava entre um riso e uma bufada.
— Quando eu escolhi minha classe, tremia tanto que deixei cair a pinça na fornalha. E olha que sou mais corajosa que muito guerreiro por aí.
Lucan esboçou um sorriso discreto.
Lá fora, passos se aproximavam.
A porta rangeu.
Kael entrou com a arrogância natural de quem cresceu como filho do chefe da vila.
Usava um casaco de couro escuro, forrado por dentro. A neve em seus ombros começava a derreter.
— Tô pronto, Lucan. Vamos fazer isso de uma vez.
Lucan virou devagar.
— Vai querer apostar quem tira a classe mais inútil?
Kael riu.
— Não preciso apostar. Eu sei que vou pegar uma rara. — falou enquanto estendia a mão com a palma virada pra cima. — Tá sentindo? Hoje é dia de domar o destino.
Brigga olhou para os dois e balançou a cabeça.
— Crianças brincando com armas afiadas.
Eles saíram juntos, deixando para trás o calor da casa.
Na clareira no centro da vila, os outros moradores observavam em silêncio.
Eldar, o chefe da vila — e pai de Kael — estava com os braços cruzados, encostado em um toco de madeira coberto de neve.
Seus olhos eram os de um homem que já tinha visto guerra.
Lucan parou do lado de Kael.
Os dois se entreolharam, sérios.
Então Kael disse primeiro:
— Liberar Sistema.
Uma tela translúcida apareceu diante dele.
Três opções. Todos viram, mesmo de longe. A voz do sistema ecoou de forma neutra e mecânica:
CLASSES DISPONÍVEIS:
– Guerreiro Guardião
– Arqueiro de Gelo
– Domador das Neves
Kael arregalou um leve sorriso.
— Eu sabia.
Eldar levantou o queixo, sério.
— Escolha com sabedoria.
Kael ergue a mão e tocou a última opção.
CLASSE ESCOLHIDA: DOMADOR DAS NEVES
Apenas criaturas de gelo/neve podem ser domadas. Buffs massivos aplicados a elas.
O sistema sumiu.
Kael olhou para o pai, e depois para Lucan.
— Sua vez.
Lucan fechou os olhos por um momento.
Sentia os olhos da vila sobre ele — olhos que confiavam, não que cobravam.
— Liberar Sistema.
A tela apareceu.
Mas só ele podia vê-la.
CLASSES DISPONÍVEIS:
– Curador do Vento
– Tecedor de Barreira
– Necromante
Lucan ficou em silêncio.
Um curador.
Um defensor.
Um invocador que só pode reviver um morto por semana… e se morrer, acabou.
Ele esperava algo diferente. Algo… mais.
Mas enquanto observava a tela, ele pensou: Kael agora pode domar feras. Quem vai enfrentar os monstros?
Fechou a mão.
— Escolho Necromante.
A tela brilhou. E sumiu.
Nada aconteceu por alguns segundos.
Então…
RECOMPENSA RARA ATIVADA
Suas invocações são imortais enquanto sua mana estiver ativa.
Essa informação está oculta para todos os outros usuários.
Lucan leu. E não disse nada.
Apenas respirou fundo.
Guardou a informação.
E, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que tinha algo real nas mãos.
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As chamas ainda crepitavam na forja quando Lucan voltou à casa de Brigga.
Kael havia seguido o pai para falar sobre sua nova classe — empolgado, já fazendo planos de domar uma matilha de lobos brancos ou talvez um urso da nevasca.
Lucan, não.
Ele voltou em silêncio.
Fechou a porta.
Encostou as costas na madeira e ficou ali parado, sem dizer nada por um tempo.
Brigga virou o rosto devagar, segurando uma pinça com uma lâmina vermelha recém-saída do fogo.
— Escolheu, então?
Lucan assentiu, os olhos baixos.
Ela apoiou a lâmina sobre a bigorna com cuidado e se virou completamente.
— Qual foi?
Ele hesitou.
— Necromante.
Brigga não respondeu de imediato. Não fez careta, nem soltou comentário apressado. Apenas caminhou até a cadeira pesada ao lado da mesa, sentou-se e fez um gesto com a mão, chamando-o com um olhar sóbrio.
Lucan foi até ela e sentou à frente.
— Falaram que essa classe é inútil — ele começou. — Uma invocação por semana. Criaturas que morrem pra sempre. Ninguém escolhe. Nunca ouvi falar de alguém que ficou forte com isso.
Brigga inclinou-se um pouco.
— Então por que você escolheu?
Lucan não desviou o olhar.
— Porque era a única que podia atacar. A vila é pequena. Alguém precisa ser a lâmina.
Brigga soltou um suspiro e, por um momento, pareceu mais velha do que ele se lembrava. Não fraca — mas cansada. Como quem já viu gente boa escolher caminhos difíceis por motivos certos.
— Então você entendeu mais do que a maioria entende aos dezoito — ela disse. — Mas saber o certo não vai te impedir de carregar o peso.
Lucan ficou em silêncio por um momento. Depois, inclinou-se um pouco.
— Vó… o que eu faço agora?
Brigga olhou pra ele com firmeza.
— Agora você aprende o que esse poder pode fazer.
— E você pensa antes de levantar qualquer morto. Porque, Lucan… — ela colocou a mão sobre a dele — …alguns não querem ser trazidos de volta.
A noite caiu devagar.
Lucan ficou sozinho no quarto de tábuas escuras, sentado sobre o colchão de feno, encarando o nada.
A única luz vinha da vela no canto.
O silêncio era tão absoluto que o vento do lado de fora parecia alto demais.
Foi ali que ele testou o que ouviu dos outros.
— Status.
A tela apareceu, flutuando na frente dele.
As letras eram claras, elegantes, como esculpidas em gelo translúcido.
✦ [STATUS – LUCAN] ✦
Classe: Necromante
Rank: Indefinido
Vitalidade: 11
Força: 14
Destreza: 13
Magia: 15 (+5 bônus por classe mágica)
Lucan arqueou levemente as sobrancelhas.
Magia alta, como esperado… mas os outros atributos já estavam acima da média.
Sabia por quê.
Desde pequeno, treinava sozinho, escondido atrás da casa de Brigga. Corria de madrugada. Carregava lenha demais. Subia pinheiros por desafio próprio.
Nunca foi pelo ego. Foi por sobrevivência.
Ele só queria estar preparado para quando — não se — o mundo cobrasse.
Agora, estava.
Fechou a tela com um gesto simples.
Encostou a cabeça na parede fria. E começou a pensar.
“Uma invocação por semana. Só uma. E se for destruída… acabou. Pra sempre.”
“Tem que ser útil. Tem que durar. Não pode ser um erro.”
Pensou em quem ou o quê ele podia reviver.
Bestas mortas no bosque? Um lobo selvagem?
Ou algo pior… um dos monstros que atacaram a vila anos atrás?
“E se eu invocar algo que os outros odeiem só de olhar?”
“E se não for obediente?”
“E se… eu reviver alguém que eu não devia?”
As perguntas vinham como vento pelas frestas.
E nenhuma resposta era quente.
Mais uma vez, ele falou consigo mesmo:
— Preciso caçar alguma coisa que mereça voltar.
E então, pensou nas possibilidades.
A floresta guardava restos. Ossos. Criaturas esquecidas.
Talvez, se fosse longe o bastante, pudesse encontrar algo útil e perigoso — mas sem rosto. Sem passado.
Afinal, quanto mais anônimo o morto, menos peso nos ombros.
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O sol ainda não tinha aparecido quando Lucan acordou.
O frio parecia mais intenso do que de costume, como se a floresta sentisse que algo estava prestes a mudar.
Ele se vestiu em silêncio, sem acender vela.
Colocou uma camisa de tecido térmico por baixo da blusa grossa de lã. Por cima, um casaco de couro preto, firme, resistente ao vento.
Na perna direita, sob a calça reforçada, prendeu uma adaga curta numa bainha de couro apertada à canela — uma lâmina pequena, mas afiada, forjada por Brigga anos atrás.
“Ela me deu quando eu tinha treze anos. Disse que se eu soubesse usar isso, nunca precisaria levantar a voz.”
Cobriu o rosto com uma máscara feita de lã escura e densa, deixando só os olhos à mostra — uma espécie de balaclava adaptada para o frio extremo da floresta. A respiração aquecia o interior da máscara por poucos segundos antes de congelar nos cílios.
Ele amarrou uma pequena bolsa de couro às costas, contendo:
Duas garrafas de água cobertas com tecido isolante
Um pacote com carne seca, nozes e bolachas de grãos
Um pano dobrado, linha e agulha
Uma corda fina de fibra vegetal trançada
Ao abrir a porta, o cheiro de neve e fumaça de lenha entrou com o vento.
Brigga já estava acordada. Sentada perto da lareira apagada, com uma xícara de chá fumegante nas mãos.
— Tá indo agora? — ela perguntou, sem levantar os olhos da bebida.
Lucan assentiu.
— Antes que a floresta acorde.
Brigga o olhou de verdade agora. Aqueles olhos que já tinham visto filhos crescerem e morrerem, armas se partirem e serem reforjadas.
Olhos que entendiam mais do que diziam.
— Você já decidiu o que quer encontrar?
Lucan balançou a cabeça.
— Ainda não. Só sei que tem que ser algo que valha a pena.
Ela fez um som com a garganta, como se aprovasse sem elogiar.
— Vai sozinho?
— Melhor assim. Se der errado, não boto ninguém em risco.
— E se der certo… talvez alguém finalmente pare de me olhar como se eu fosse uma vela prestes a apagar.
Brigga levantou, caminhou até ele, e colocou uma das mãos pesadas em seu ombro.
— Você não é uma vela, Lucan. Você é o vento. Silencioso, mas capaz de mudar tudo.
Ele ficou em silêncio, mas os olhos disseram obrigado.
Abriu a porta. E partiu.
O interior da floresta parecia respirar com vida própria.
Cada passo afundava na neve até quase o tornozelo. Os pinheiros altos bloqueavam grande parte da luz, criando corredores de sombra e silêncio.
Lucan se movia rápido, mas com atenção. Observava marcas no chão, galhos partidos, buracos nas árvores.
Estava à procura de carniça recente. Ossos. Alguma criatura que tivesse morrido sozinha, longe de olhos humanos.
Foi quando ouviu algo.
Passos. Dois pares.
Ele se abaixou atrás de um tronco caído, observando por entre as folhas congeladas. E viu.
Kael.
E Ranna, a domadora de bestas da vila.
Ambos estavam focados, olhando em direção a uma área onde o terreno se inclinava levemente. O chão ali estava remexido. Pegadas grandes e profundas marcavam o caminho.
— Tem certeza que é um da nevasca? — Kael perguntou em voz baixa.
Ranna assentiu.
— Absoluta. Essa trilha é recente. E olha ali… — apontou para um pedaço de pelo branco-acinzentado preso num galho — …isso não vem de lobo comum.
O Lobo da Nevasca.
Uma espécie maior, mais inteligente e extremamente territorial. Poucos domadores ousavam se aproximar.
Lucan se ergueu devagar e saiu da cobertura da árvore.
— Vocês não são os únicos caçando hoje.
Kael virou com um movimento rápido, mão já na alça do arco.
Relaxou ao ver quem era.
— Tá me seguindo agora?
— Coincidência — disse Lucan, direto. — Meu caminho cruzou com o seu.
Ranna encarou os dois, mas não disse nada. Apenas estudou Lucan com olhos de alguém que conhecia o perigo.
— Você não devia andar sozinho na floresta logo no dia seguinte ao despertar — disse Kael. — Ainda mais com essa sua… classe.
Lucan respondeu sem hesitar:
— A floresta não é o que me assusta.
Kael soltou um riso curto.
— Justo.
Ranna olhou para o sul, farejando o vento como se sentisse o cheiro da fera.
— Ele está por perto. Se forem fazer barulho, fiquem atrás de mim quando a coisa aparecer.
Kael virou-se para Lucan.
— Já sabe o que vai invocar?
Lucan olhou para a floresta à frente, onde o frio era mais escuro e o mundo parecia mais antigo.
— Ainda não.
Mas sei que quero algo que saiba esperar.
Algo que não morra à toa.
E que, quando for chamado, não questione por quê.
Kael ficou em silêncio por um momento. Depois assentiu.
— Boa sorte com isso.
Lucan olhou para o rastro do lobo da nevasca.
— Igualmente.
E então, eles seguiram caminhos diferentes.
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Lucan subia.
Cada passo mais fundo na floresta era um desafio: a neve se tornava mais espessa, o solo mais irregular.
As raízes dos pinheiros velhos serpenteavam como costelas sob o manto branco, e o vento soprava cortante entre as árvores como um aviso.
A floresta naquela altitude não era feita para visitações humanas.
Ali, o frio não era só temperatura. Era presença. Era prova.
E Lucan sabia — quem não tivesse certeza do que buscava, se perderia nela.
Ele parou por um momento, encostado num tronco úmido. Respirava fundo, o vapor saindo pela máscara e congelando na beirada.
“Vale a pena?”
A pergunta veio. Mas ele não respondeu.
Apenas ajustou a alça da bolsa nas costas, firmou a mão na lâmina da perna…
E continuou subindo.
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O rugido cortou a floresta como uma rachadura.
Não era um uivo. Era uma promessa.
O Lobo da Nevasca surgiu por entre as árvores maiores — uma criatura de dois metros de altura, ombros largos, pelos brancos como gelo sujo de sangue, olhos de um azul que parecia feito de cristal puro.
Ele avançava com fúria contida. Inteligente.
Sabia que estava sendo caçado.
Sabia quem eram seus caçadores.
Ranna ficou à frente. Seu Lobo das Neves, chamado Skarn, rosnava baixo, o pelo eriçado. Ele era menor, mas tinha cicatrizes demais para ser subestimado.
Kael manteve o arco pronto, as flechas revestidas com gelo mágico.
— Lembre-se — disse Ranna —, não se trata de matar. Se ele sentir que vai morrer, ele foge. Se mostrar fraqueza, ele mata.
Kael assentiu.
— E se errarmos, morremos.
O choque veio rápido.
O Lobo da Nevasca saltou com uma força que quebrou galhos no ar. Ranna desviou para o lado, Skarn interceptou no ar, e os dois corpos se chocaram com o som de ossos e gelo colidindo.
Skarn cravou os dentes na lateral do inimigo, mas foi arremessado com as patas traseiras. Rolou no chão, levantando já em posição de ataque.
O Lobo da Nevasca rosnava baixo, sangue escorrendo do flanco.
Kael disparou.
A flecha cravou no ombro esquerdo da fera, que gritou e avançou em ziguezague, inteligente o suficiente pra não correr em linha reta.
Skarn avançou de novo, agora mais calculado.
A luta durou minutos longos.
Pulos, rosnados, garras que quase arrancavam pedaços.
O gelo do chão começava a se partir com o peso e os golpes dos dois lobos.
Ranna gritava comandos, Kael se movia ao redor, disparando, desviando, controlando o ritmo.
Até que o Lobo da Nevasca parou.
Ferido. Tremendo. Sangue manchando seu pelo branco.
A tela do sistema apareceu para Kael, visível apenas para ele:
[ALVO – LOBO DA NEVASCA] Estado atual: 10% de vitalidade Domável
Kael guardou o arco.
Ranna fez um gesto com a cabeça. Skarn rosnou, mas se afastou.
Kael se aproximou devagar.
O Lobo o olhou com olhos de dor… e respeito.
A boca semiaberta, os dentes ainda expostos, mas o corpo sem força pra mais.
Kael tirou a luva da mão direita.
Pegou a adaga presa à cintura e cortou a ponta do dedo médio, deixando o sangue escorrer.
— Eu não sou seu dono.
— Mas se você me aceitar… nunca vai cair sozinho.
Estendeu o dedo.
Tocou a testa da criatura.
Houve um instante de silêncio absoluto.
Então o sistema respondeu:
[RITUAL COMPLETO – LAÇO ACEITO] LOBO DA NEVASCA DOMADO
Nomeie sua criatura.
Kael exalou fundo.
Ranna sorriu com um orgulho que não se manifestava sempre.
“Não esperava por menos de você.”
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A subida finalmente o levou até a base de um antigo morro.
Ali, as árvores diminuíam.
O solo era mais firme, mais velho.
No topo, ele sabia o que havia: o cemitério da vila.
Pequeno, discreto. Sem muros. Sem portões. Apenas uma fileira de estacas escuras cravadas no chão, marcando túmulos cobertos de neve.
Lucan respirou fundo.
A árvore maior ali parecia tocar o céu — um pinheiro antigo, torto, com galhos quebrados que lembravam braços erguendo o céu cinzento.
Ele escalou.
As mãos encontraram cascas firmes, buracos naturais. O corpo respondia bem, treinado pra isso.
Subiu até o último galho largo o bastante para suportá-lo.
E lá de cima, viu as estacas cobertas de neve.
O túmulo dos pais dele estava lá.
Sem flores. Sem placas douradas.
Apenas madeira escura…
E silêncio.
Lucan se ajoelhou no galho.
Fechou os olhos.
— Se eu for fazer isso… vai ser aqui.
FINALIZAÇÃO
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